terça-feira, novembro 01, 2005

Como é que é??!

Tenho lido muita coisa na internet tratando do polêmico assunto da obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de jornalista. Bem, passei mais de 45 minutos só lendo um texto de um jornalista chamado Eduardo Ribeiro e, em seguida, alguns dos inúmeros comentários de jornalistas – formados ou não – acerca de seu arrebatado texto intitulado “E agora, juíza? Quem paga o prejuízo?” As opiniões, obviamente, divergem muito, pois cada um dos representantes dos “estudantes” e dos “precários” expõe de maneira clara, sucinta e até mesmo cômica, seus fundamentos. Em outro site local, li também a refutação de um senhor chamado Daniel Oliveira da Paixão, contrariando a intensa defesa dos ditos “formados” ou “formandos” ao maldito canudo.
O que se tem em vista é um embate parecido com o que fora colocado em questão à época do malfadado referendo da proibição do comércio de armas de fogo e munição no Brasil. Ou seja, complicado e confuso até o último suspiro de cada um dos defensores ou algozes do diploma. Mas, como jornalista – e já assumo que não sou formado – não poderia deixar esse assunto passar em branco. Então, é isso, caros colegas, formados ou não, agora farei, de maneira totalmente particular, um breve (não tão breve assim) comentário sobre este assunto que tanto aflige a humanidade. Lembrem-se de que estamos num blog, comandado por um egocêntrico, reacionário e subversivo dublê de jornalista. Aqui, adotamos apenas slogans de figurinhas como o Coisa (Quarteto Fantástico) e Wolverine (X-Men), algo do tipo... “É HORA DO PAU!!!!”

Na semana passada, segundo o site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Brasil parou para acompanhar a votação do caso da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Essa obrigatoriedade tinha sido extinta em meados de outubro de 2001, quando a juíza Carla Rister, do Tribunal Regional Federal de São Paulo da 3ª Região, concedeu liminar que acabava com a exigência do curso superior de Jornalismo para quem realmente precisava atuar e que tivesse capacidade para tanto, a exemplo do que acontece em países como Estados Unidos e Japão. Mas, na última sexta-feira, os juízes Manoel Álvares, Salete Nascimento e Alda Basto, derrubaram a liminar e deram a vitória aos jornalistas formados, aos professores e alunos dos cursos de Jornalismo. A comemoração foi tanta que até mesmo em Estados onde a maioria dos jornalistas ativos são provisionados – não possuem o curso superior – houve entusiasmo exacerbado.
Mas abordemos os detalhes: De acordo com um trecho de um artigo transcrito do jornal Folha de S. Paulo - 12/5/03 e publicado no site da revista Consultor Jurídico no dia 12 de maio do mesmo ano, “...A "Carta pela Imprensa Livre", estabelecida pelo Comitê Mundial pela Liberdade de Imprensa (WFPC), em Londres, em 1987, afirma explicitamente: "Devem ser eliminadas as restrições por meio de regulamentação ou de outros procedimentos de certificação ao livre acesso ao campo do jornalismo ou sobre sua prática". Esse documento, assim como outros de igual teor, como a Declaração de Chapultepec, de 1994, da Sociedade Interamericana de Imprensa, é enfatizado no "Relatório Mundial sobre a Comunicação 98", da Unesco. No plano jurídico, essa exigência também é absurda. A obrigatoriedade do diploma de jornalismo foi estabelecida pelo decreto-lei 972, de 1969. Baixado pela Junta Militar, que governou o país com o Congresso Nacional fechado, seu texto não mostra apoio em nenhuma Constituição ou lei, exceto nos já revogados AI 5 e AI 16. Por isso, esse dispositivo já foi repudiado por juristas dos mais respeitados do país...”
Como podem ver, caros colegas, não fui eu quem escreveu isso. Tenho internet em casa e posso garimpar essas pérolas pelo Google. De qualquer forma, não quero dizer agora que o diploma seja inútil, mas não defendo a tese de que quem o tem está “completamente” capacitado para ser um jornalista de verdade, honesto, com credibilidade e experiência de vida para isso. Ora, se for assim, o que acontecerá com os renomados jornalistas que o Brasil possui? Aqui em Rondônia, nestes meus quase 9 anos de imprensa, conheci verdadeiros mestres das palavras, que sabem, como ninguém, expressar suas idéias e passar a quem realmente interessa – o leitor – uma opinião séria, comprometida com a verdade, com a ética e, quem sabe, até mesmo com a linguagem de um povo. Ou vocês não repararam o quão eloqüente são os textos daqueles nossos conhecidos jornalistas veteranos, de barbas e cabelos brancos, corpos já deformados pelo tempo e pelo incessante trabalho (tem o fator álcool e tabaco também)? Eles são venerados principalmente por esses cordeirinhos artificiais que defendem 4 anos de ralação de bunda nos bancos de academias caça-níqueis e, principalmente, de um pedaço de papel que possa lhe garantir uma vaga neste sufocado mercado da mídia.
Peço vênia, contudo, para explanar meus conhecimentos de pessoas com quem tenho atuado nesta imprensa rondoniense. Pôxa!... esses caras que não têm o diploma, possuem, no mínimo, mais de 25 anos de experiência na profissão e isso não deve ser jogado na lata de lixo, e sim resguardado. Conheço caras que sequer possuem o Ensino Médio completo e escrevem melhor do que alguns jornalistas que arrotam a formação em nossa cara mas, na prática, possuem textos semelhantes aos de crianças do Fundamental ou até de apenados do Urso Branco. Daí eu pergunto: Vale a pena possuir um diploma e não ter o conhecimento prático, a experiência de vida, o conhecimento do cotidiano, a retórica tão necessária em textos, a empatia com o público e, especialmente, com os entrevistados?
Tem mais... não quero aqui defender que qualquer cavador de poço – por mais que possua inteligência mediana – se transforme em um jornalista da noite pro dia. O que defendo é o direito à liberdade de expressão dada a qualquer cidadão e isso, sabemos, pode ser feito através de bate papo em barzinhos, em debates de escolas primárias, em blogs, em sites pessoais e, por que não, em um jornal? Claro que não vamos colocar um bóia fria qualquer para ser nosso âncora, nosso Clark Kent ou Lois Lane – acredito que nenhum dono de jornal, em sã consciência, faria esse papelão – mas devemos saber que não basta ter o conhecimento técnico e alguns trabalhos apresentados às pressas (por que temos uma festinha mais tarde com os amigos) nas salas das faculdades para sermos considerados os “feras” do jornalismo.
Não quero também contrariar os colegas que estão na faculdade completando o curso de jornalismo. Este curso, assim como os demais, deve ser valorizado, até porque, em muitos casos, possui um alto custo nos 4 anos de graduação. Mas devemos saber que o mercado é formado por feras, gente que já está na lida há muito tempo e que, com certeza, podem até mesmo dar aulas de jornalismo aos professores que hoje estão lhe ensinando nestas academias. Por falar em dar aulas... quem instituiu o diploma? Qualquer diploma, seja ele de qualquer curso superior? Será que os grandes gênios da humanidade, os grandes pensadores, filósofos, escritores, pintores, cineastas, físicos e inventores possuíam algum diploma quando deixaram seus legados para os dias de hoje? Esses mesmos legados que hoje são abastados nas universidades? Ora, não sejamos tolos! Não quero dizer com isso que um médico, um dentista, um advogado, um engenheiro, um juiz de direito não tenha a obrigação de possuir o diploma. O que quero é dizer que o diploma de jornalismo não é um fim, mas um meio. Um meio de arrumar um emprego? Você, gatinha, que está fazendo jornalismo em Rondônia, só porque tem um rostinho bonito, um peitinho em forma de mamão ainda não colhido e uma bundinha empinada, acha mesmo que terá chance contra os mestres que fundaram a Imprensa neste Estado? Me diga... você pagou em média R$ 400 mensais durante quatro anos (R$ 19.200) para se formar e... finalmente, se contratada, vai ganhar um piso salarial de R$ 920? Isso é menos do que ganha um motorista de ônibus coletivo de Porto Velho.
Só para iniciar o fim deste artigo, quero lembrar a todos que a vitória dos pró-diplomas é provisória. Ainda cabe recurso no Supremo Tribunal Federal e, lá, eu quero ver se vamos regredir assim como os países que exigem o canudo e não mostram qualidade e ética em seus “profissionais”. Por falar em ética, alguém aí sabe se essa palavra existe ou é aplicada no jornalismo tupiniquim? Como diz aquela voz no programa do Dalton: “Sei não, hein?” Por enquanto, é bom abaixar o facho e não começar a caçar os precários. O que o Ministério Público do Trabalho pode, agora, é apenas impedir que novos registros precários sejam expedidos. Nada de perseguição, entendeu? Ainda há muita água pra rolar por debaixo da ponte.
Ah, quase ia me esquecendo... se o diploma for obrigatório para ser jornalista, isso quer dizer que basta eu comprar uma máquina digital, sair por aí dizendo que sou repórter-fotográfico ou, também, saber técnicas de linhas cruzadas ou saber mexer no Quark ou Pagemaker para me intitular diagramador e, em ambos os casos, garantir uma carteira de jornalista “definitivo” expedida pela Fenaj e, conseqüentemente, ter direito a perceber o mesmo salário daquele que (há, há, há), gastou uma nota preta e se lascou durante 4 anos só pra ter o diploma? Se for assim, paro de reclamar agora!