segunda-feira, abril 09, 2007

O Estadão do Norte

Tudo começou no início de 1997, pouco mais de 40 dias depois de eu ter pegado minha então namorada Gercineide e sua filha Rayane – à época com seus recém-completos quatro anos de idade – e levado para morar comigo e com minha família, na antiga casa dos meus pais, na rua do 4º DP, bairro Nova Floresta, zona Sul de Porto Velho. Estava desempregado há pelo menos três meses, logo após ter rescindido contrato com o então Escritório Ivaneide Soares de Contabilidade e, como tinha acabado de assumir uma família, tinha a obrigação de conquistar uma vaga em alguma empresa, seja ela qual fosse, para garantir meus proventos e o sustento de mais algumas bocas além da minha. Comecei a pensar em que tipo de emprego eu cabiria, mas como me faltavam portas para continuar na Contabilidade, lembrei dos colegas do Escritório Modelo de Contabilidade (o maior do Estado) que sempre me diziam que eu poderia ser bastante aproveitado em qualquer jornal por conta do meu talento como desenhista. Peguei um vasto portfólio de desenhos que guardava desde a época dos meus 13 anos e juntei numa pasta que carreguei direto para o Estadão do Norte, o sonho de consumo de qualquer um que quisesse ser parte do mundo jornalístico. Foi o primeiro que me veio à cabeça e resolvi ir lá, tentar alguma coisa. Na época trabalhava um colega na empresa um colega que jogava vôlei comigo nas peladas do bairro, o Raimundo, também conhecido como Mingola. Logo depois de eu ter apresentado meu currículum à recepcionista, fiquei esperando alguém me atender naquela imensa recepção ornamentada de mármore, granito e uma visão bacana da gigantesca rotativa. Mingola apareceu da escada que dá acesso ao nível superior daquele palácio e me cumprimentou, perguntou o que eu estava fazendo ali e disse que me apresentaria a alguém que poderia me ajudar. Na tarde do mesmo dia retornei ao O Estadão e fui conduzido até a sala de Informática, onde fui apresentado ao Reginaldo, o chefe daquele departamento (talvez o melhor que aquela empresa já teve) que simpaticamente começou a olhar meus rascunhos. Tinha diversas obras, especialmente desenhos do mascote do Iron Maiden (The Edd) enterrando nas cestas de basquete (sempre fui fã de NBA), super heróis, mulheres bonitas e quadrinhos de toda a espécie. O cara me falou que eu poderia ser aproveitado como chargista ou como ilustrador de matérias policiais. Ele logo me levou à Redação e me apresentou ao editor chefe da época, Antônio Queiroz, popularmente conhecido como "O Professor". O flamenguista roxo disse que eu deveria começar naquela hora mesmo e substituindo nada mais nada menos que Analton Alves da Silva, o Trist. Trist aceitou na boa e disse que até era bom para ele, que na época, além das conhecidas charges que tinham como emblema maior uma aranha que descia do teto e pensava alto, já estava fechando a famosa página 11, a Polícia.
Em seguida fui apresentado à minha primeira sala, vazia, apenas com uma grande mesa inclinada para que eu pudesse iniciar meus traços. Lembro até hoje qual foi minha primeira charge. Era a de dois PM's lanchando de costas a uma agência bancária enquanto um assaltante saia rindo da cara dos manés. Os caras adoraram a charge e disseram que eu nem precisava mais esperar que encerrasse a semana de experiência, sem remuneração, sugerida pelo Reginaldo. Naquele ano, em fevereiro de 1997, a Redação era dividida em três grandes frentes. A primeira era liderada pelo editor Antônio Queiroz, a segunda era mantida pelo secretário de Redação, Lúcio Albuquerque, tipicamente sério, mal humorado e bastante incisivo em suas palavras e opiniões. A terceira era uma espécie de resistência arregimentada pelo então cabeludo Antônio Pessoa, que naquele tempo ostentava um rabo de cavalo e acabara de assumir a então editoria de Municípios, um caderno altamente divulgado em oudoor's por toda a cidade e até pela TV Rondônia. O Caderno de Municípios era tido como a "menina dos olhos" do O Estadão do Norte em seus 15 anos de existência. Queiroz, Lúcio e Pessoa não se cheiravam mesmo e isso era notório entre todos os mais de 100 funcionários de Mário Calixto. Ainda assim fui agraciado com a simpatia dos três. Podem não acreditar mas eu era bajulado por esses caras na minha primeira semana de Estadão. Ficava até parecendo que eles diziam "venha para o meu grupo, não fique entre os inimigos". Queiroz me aceitou como funcionário logo de cara, Lúcio me deu alguns toques de como seria minha vida ali dentro da Redação e do jornal e Pessoa foi o que me firmou dentro do quadro funcional. Ele disse para eu acompanhá-lo até o segundo piso, onde estava localizada a sala do Diretor Administrativo, Fábio Vilela. Cara, eu fui surpreendido quando o cidadão me ofereceu como salário R$ 250,00, bem menos do que os três salários mínimos que eu ganhava quando mexia com folhas de pagamento no último emprego. Aceitei, claro, mas com a certeza de que aquilo era apenas o começo de uma carreira que daria certo. Nos dias seguintes fui orientado pelos editores e pelo vice-presidente do O Estadão, Omar Cunha, a fazer charges ironizando o ex-senador Odacir Soares. Eu não alisei e fiz o cara travestido de rato e cachorro. Era uma guerra aberta entre O Estadão do Norte e Odacir Soares, senador e dono da Rádio Rondônia FM e da universidade particular Faro, a única da época. Com o tempo, foram temas das minhas charges gente como o saudoso prefeito Chiquilito Erse, Silvernani Santos, o então governador Valdir Raupp, o senador Ernandes Amorim, os deputados Marcos Donadon, então presidente da Assembléia Legislativa, Dedé de Melo, a então deputada estadual Mileni Mota, Carlinhos Camurça, entre outros. Na época em que era permitido fazer charges locais, eu fui orientado a criar um pseudônimo, um nome artístico, pois não poderia assinar como Rondineli Freitas Cerdeira (meu nome) já que não teria como arcar com custas processuais. O ônus de qualquer processo judicial teria que ser arcado pela empresa em que eu trabalhava. Rapidamente lembrei da revista MAD, que vinha recheada do cartuns do mundialmente conhecido Sérgio Aragonés. O primeiro nome que me veio à cabeça foi Gonzalez, e assim ficou. Em pouco tempo, fiquei conhecido, principalmente dentro do metié político.

Em 1997 trabalhavam como repórteres no O Estadão nomes como Paulo Ricardo Leal, Leivinha Oliveira, Da Silva, Marlene Mattos, Lígia, uma outra que chamavam de Chanchita (não me lembro o nome dela), Lúcia Reis, Marcos Henrique "Tóia" (hoje o sustentáculo do O Observador) e outros que não recordo agora. Os jornalistas "internos" eram Pessoa, Queiroz e Lúcio Albuquerque. Os fotógrafos eram José Hilde (hoje na Folha de Rondônia), Quintela e Jéfferson Barbosa. Os diagramadores eram José Félix, Zezinho "a Zefa", Ronaldo Affonso e Aristóteles Quintela, filho do Quintela. Israel Vieira acabara de sair do setor de Formatação para iniciar como repórter. Roberto Kuppé (era Cupê na época) era o colunista político e dono da mais lida coluna daqueles tempos, a Zona Franca.

Antônio Pessoa assumiu a editoria poucos meses depois de eu ser contratado.

Os anos foram se passando e muitos foram embora e outros chegavam. Clara Luz, Ivanilson Frazão, aquele outro que não lembro o nome mais era bastante esotérico e mexia com o chá de Mariri e Alice, que hoje está no Fórum Eleitoral. Quando o Alto Madeira começou a se afundar na crise, começaram a chegar ao O Estadão veteranos como Dalton di Franco, Chagas Pereira, Nonato Cruz, Cláudio Paiva (o vovô taradão), Valmir Miranda e Águido Melo. Passaram por lá também Carlos Henrique Ângelo e Gilson "Campeão", hoje assessor de imprensa do TRE.

Chegaram - e não ficaram por que não quiseram - por lá gatas como Kadijah Suleiman, Rose Viegas, Marcela Ximenes e Luíza Archanjo. Tirando Kadijah, que depois foi para a TV Rondônia e agora mora no Mato Grosso, as outras continuam atuando, seja em jornais, em tevê ou em rádios ou em assessorias.

Com a saída de Hilde, Sérgio (esse passou rápido) e Jéfferson Barbosa, chegaram para assumir as vagas de fotógrafo os feras Marcelo Gladson (hoje quase repórter) e Ésio Mendes.

Lembro-me ainda do saudoso Teobaldo, um colega que era respeitado por sua profissão, ex-secretário municipal de Planejamento (acho) e que deixou este mundo há alguns anos.

A redação do O Estadão não poderia existir sem a Antônia, uma das mais antingas funcionárias de Mário Calixto. Na época ela era digitadora e agora é diagramadora. Edmilson, o querido Bolinha, ainda está lá, acredito, mantendo sua função de patrimônio histórico do Sistema Mário Calixto de Comunicação e como revisor.

Fiquei exercendo a função de chargista por quase três anos mas, quando Antônio Pessoa viajou de férias (geralmente isso acontece em janeiro ou no fim do ano), sofri - ainda não sei por que - uma espécie de assédio moral silecioso da gestão interina de Chagas Pereira. Eu já não fazia apenas charge, mas também montava todos os suplementos dominicais do O Estadão, como a Revista da TV, Carros & Cia e Caderno de Família. No entanto, sem mais nem menos, fui sendo colocado de lado, passava quase o dia inteiro sem que ninguém me desse nada para fazer. Pensei muito e vi que ali não caberia mais minha pessoa. Falei com o então Gerente Comercial, Paulo de Tarso, que me aproveitasse como arte finalista naquele outro departamento, setor este conhecidamente com rixas do pessoal da Redação. Fiquei lá por pelo menos duas semanas, criando e fazendo anúncios. Mas minha vida iria mudar dali para frente. Estava eu sentado diante de um micro poderoso, com o Corel Draw em atividade, quando passa pelo corredor o editor que chegava de férias. Pessoa me viu, parou e perguntou o que eu estava fazendo ali. Eu disse que ali era meu departamento agora, pois eu estava literalmente de escanteio na Redação. Sei que nunca fui um exemplo de excelência como funcionário, mas nunca tinha sido colocado na geladeira antes. Pessoa me perguntou o por que de tudo aquilo e como não obteve a resposta, determinou que eu voltasse imediatamente à Redação, e que dali para frente eu seria repórter. Foi aí que comecei a fazer isso que eu estou fazendo agora, escrever de verdade, com gosto, com paixão. Sempre gostei de redação, de literatura, de tudo o que pudesse ser lido, até bula de remédio. Tive centenas de gibis quando era criança e sempre tirei as melhores notas nas disciplinas de Português, Redação e Literatura.

Nos primeiros dias como repórter eu tinha que dividir a viatura (o carro com a logomarca do jornal e com a palavra Reportagem nos vidros dianteiro e traseiro) com o Mendes (ou Marcelo), Rose Viegas e Tóia, meu cumpádi. O motorista era ou Moisés ou Seu Eustáquio (esse é outro que vai morrer naquela empresa). As pautas eram divididas e tínhamos que reversar tanto com o motorista quanto com o fotógrafo. Se a pauta fosse rápida, esperávamos o colega cumpri-la para seguir adiante. Os trechos deveriam ser sempre bem estudados, para não atrapalhar a vida de ninguém e facilitar a vida dos motoras. Era extenuante, mas ao mesmo tempo bastante didático e até divertido. A gente aprendia muita coisa, conhecia muita gente e se emocionava com algumas matérias de cunho social.

Continua... amanhã...
Preciso dormir

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