À galera que se mantém fiel a este blog, quero pedir desculpas pela demora na conclusão desta bonita história que tive com o maior jornal impresso do Estado. Tive que pensar muito em como eu terminaria esse texto e, por isso, levei esse tempo todo, pois queria uma coisa bonita, bem detalhada e, justa. O texto, novamente, é pautado pela verdade simples e pura e não leva em consideração, em momento algum, o fato de que alguns colegas que continuam no O Estadão gostarão ou não do que vão ler. Portanto, aí vai o capítulo final desta jornada que marcou a minha vida. O texto vai ser dividido em intertítulos para justificar algumas coisas e valorizar algumas das minhas opiniões.
Nos últimos meses de 2002 eu caí de cabeça numa crise existencial que foi gerada a partir de um relacionamento proibido com uma jovem que morava em Candeias do Jamari e que, não só por conta dela, mas também por sua maravilhosa família, acabou colocando em xeque a minha harmoniosa convivência em casa. Não demorou muito e logo fui largado por mulher e filhas, numa despedida que eu nem tive como reagir. Dali em diante meu inferno astral começava. Sozinho, parei de atuar com primazia no trabalho e por várias vezes deixei de ir trabalhar, tomado pelas ressacas constantes, fruto das bebedeiras que serviam como anestésicos para meu sofrimento. Com isso, fui logo sendo questionado diariamente pelos meus imediatos. É neste momento que faço justiça a duas pessoas que, mesmo estando em posições favoráveis dentro da Redação, foram humildes e compreensivas o bastante para me estender as mãos e me dar mais uma chance. São eles Nonato Cruz e Chagas Pereira. Nos meus momentos de dor e solidão que me faziam chegar atrasado ou faltar ao serviço, esses caras me davam conselhos e um ombro amigo para chorar. Experientes e com uma sabedoria acima do normal, fizeram com que eu ainda tivesse forças para resistir e me manter mais alguns dias no jornal. Mas, como a situação não apresentava melhoras, o editor chefe, Antônio Pessoa, acabou me dando férias e, como todos sabem, sair de férias "induzidas" no jornal O Estadão era sinônimo de demissão. Não haveria retorno. Minha derrota estava quase completa e as semanas de solidão e incertezas de emprego iam se passando. Nesse ínterim tentei, pela última vez, a reconciliação com a minha amada e, quando obtive um sinal bom, tive que dizer a ela que já não sabia se ainda era um homem empregado. Nos dias seguintes que se aproximavam de minha volta, fui gastando fichas telefônicas para ligar para Omar e Pessoa. Fui orientado a ficar mais um mês de férias, pois tinha elas vencidas e que também era para os editores intensificarem junto aos chefões o meu suposto regresso. Quando terminaram-se os 60 dias de espera, tive que ouvir mais uma daquelas falácias de que eu estava voltando ao trabalho por causa da boa vontade dele, do Pessoa. Cara, nunca vi, até aquele momento, a verdadeira face da falsidade e da falta de caráter. Obviamente continuei no emprego, mas sempre com a certeza de que, dali para frente, tinha um cara que quando pudesse, iria me jogar na cara a manutenção do meu emprego, e sempre utilizando o nome do Mário Calixto como escudo. "Ah, porque o Mário não gosta disso...", "Ah, porque o Mário mandou fazer isso...", "Ah, porque quem manda é o Mário e eu só obedeço." Quanta hipocrisia! Era uma pessoa em que não dava mais para a gente acreditar. Mas meu inferno estava apenas começando...
Layout
O Estadão do Norte sempre foi elogiado pelo seu belo layout. Pelo tempo que fiquei lá, o jornal passou por pelo menos umas três alterações gerais em seu design. A última foi a mais bonita de todas mas, em compensação, a que desvalorizou totalmente o talento dos jornalistas. O caríssimo layout pago por Mário Calixto, que contratou gente de fora e fez até uma festa no Barcaça para apresentar a todos, prendia os jornalistas e diagramadores. O que importava, naquele momento, era preencher exatamente os boxes, em pouquíssimas linhas e diagramações pré-definidas que causavam ânsia de vômito nos jornalistas que sabiam valorizar um texto rico em detalhes. O layout a que me refiro é o mesmo que você, leitor, vê hoje nas bancas de revistas, panificadoras e sinais de trânsito. Bonitinho, mas ordinário.
Injustiças
Eu poderia dizer aqui que fui o maior injustiçado de todos pelos editores e chefões do O Estadão até hoje, mas não afirmarei isso considerando o que passaram alguns colegas. Uma perseguição implacável e um assédio moral brutal foram impostos à gente boa como Claudinho Paiva e outros que nem vou mencionar. Trabalhar muito sem ganhar nem um "obrigado" dos chefes era rotina para o amigão Claudinho, cara boa praça que, apesar de não ter se adequado completamente ao jornalismo moderno, sempre ajudava a quem precisava. Hoje Claudinho está à sombra da incerteza, talvez sem nenhuma outra porta aberta para si, mas com a eterna certeza do dever cumprido, mas não reconhecido.
Mas Claudinho não foi o único que trabalhou muito sem ganhar esse reconhecimento. Alguns trabalharam muito, fecharam cadernos especiais de final de ano, de carnaval, de celebração de aniversário da empresa, sem nunca ter ganhado uma hora extra, uma gratificação ou um simples "Parabéns. Bom trabalho."
Amigos
Gosto de dizer que os funcionários do O Estadão já faziam parte da minha família e muitos deles considero como amigos até hoje. Mas quero destacar aqui as pessoas que realmente se mostraram genuínos fraternistas. Nonato Cruz era um dos caras mais tranqüilos da Redação e que sempre era fonte de informação e história para os novatos como eu. Tinha um bom gosto musical e adorava dar risadas com as palhaçadas da turma. Houve um momento em que minha amizade com ele foi posta (por forças alheias à convivência laboral, mas isso é outra história) em dúvida, mas que logo foi sendo recuperada. Até hoje acolho em meu coração este senhor a quem eu apelidava de "Tio Barnabé" como um dos grandes amigos (pelo menos da minha parte) que tive ali dentro.
Chagas Pereira: Um cara que, apesar de ter inicialmente se proposto a não ser justo comigo (eu achava isso), mostrou-se um verdadeiro companheiro, até mesmo com palermas como eu. Segurou a barra várias vezes para mim. Me chamava na ante-sala para me repreender. Era justo e sereno em suas palavras. Era brincalhão também, mas sempre impunha respeito pelo seu jeito sério. Talvez Chagas não tenha agradado a todos, mas de mim ele soube conquistar respeito e admiração. Incontestavelmente, um paizão.
Leivinha Oliveira e Paulo Ricardo nunca foram considerados meus amigos verdadeiros, mas sempre mantivemos o respeito com a opinião de cada um e a alegria de algumas horas etílicas que apenas ampliaram o sentimento de fraternidade que tenho com eles.
Minha sincera amizade em especial para a Antônia, Manoelzinho e Bolinha, gente que não faz mal a ninguém e que não deve ter inimigos em canto nenhum deste mundo.
Ao Maurício Calixto, que hoje passa mais tempo na Assembléia Legislativa, só tenho a dizer que, apesar de ser irmão do dono do jornal, ele sempre se manteve humilde com os funcionários. O cara é realmente político, sabe conquistar eleitorado. Também, com a inteligência e a oratória deste homem, pelo menos a admiração se torna uma questão de tempo.
Saída
No ano passado (2006), mais uma vez eu me encontrava com necessidades pessoais para tirar férias. Tinha respeitado, até o mês de agosto, o fato de que a Redação estava carente de funcionários e, por isso mesmo, mais uma vez segurei a editoria completa de carnaval e o período integral de Copa do Mundo. Mas chegou um momento em que eu tive que tirar férias e acreditei que se o fizesse apenas anunciando aos diretores administrativos, não teria problemas. Ledo engano! Zacarias Lima, que estava assumindo a editoria enquanto Pessoa viajava, era contra meu repouso garantido na CLT e, por conta disso, pediu que eu ficasse mais alguns meses, principalmente porque as eleições 2006 se aproximavam. Expliquei a ele que não dava mais para segurar, pois precisava das férias para resolver alguns problemas pessoais. Em quase 10 anos de empresa, nunca tirei férias para viajar, apenas para resolver problemas pessoais. No dia seguinte ao meu comunicado de que estava de férias, Pessoa retorna de viagem e logo fico sabendo que ele não estava nada satisfeito com minha saída. Fui ao O Estadão e perguntei pessoalmente a ele se o que diziam era verdade: "Tá acontecendo alguma coisa aqui? Estão dizendo por aí que minha cabeça vai rodar porque eu tirei férias". O cara me disse, na boa, que nada disso era verdade, que eu poderia tirar minhas férias despreocupado. Passaram-se os 30 dias de descanso e, no dia 4 de setembro de 2006, quando eu achava que poderia recomeçar a trabalhar, sou chamado ao Departamento Pessoal onde a Dona Maria (outra que deve se tornar patrimônio histórico da empresa) me pediu para eu assinar o aviso-prévio e que, no dia seguinte, eu levasse minha Carteira de Trabalho para a empresa dar baixa. Honestamente, quase não acreditei, até porque, como membro da diretoria executiva do Sinjor, eu acreditava não poder ser demitido. Quanto engano...
Cara, não acreditava que aquilo estava acontecendo. Depois de nove anos e seis meses, eu estava sendo sumariamente e injustificadamente demitido do jornal, local que eu já considerava meu lar. Apesar de ter sido contratado dois dias depois em outra empresa, minha depressão silenciosa fez com que eu perdesse cinco quilos. Ainda estava absorvendo aquela dor de ter sido preterido. A dor da rejeição deve ser uma das piores deste mundo. Demorou a cair a ficha.
Dúvidas
Nas primeiras semanas de certeza de estar "fora de casa", comecei a tentar encontrar alguns "culpados". Logo, dois ou três nomes me vieram à cabeça. Alguns destes eu ainda não tenho certeza se fizeram realmente parte desta sórdida manobra anti-Rondineli mas, de um eu tenho certeza e disso, não existe ser humano nesta Terra que me convença do contrário. Sabem de quem eu estou falando pois, gente sorrateira e repugnante como este "ser" eu nunca conheci na vida.
Renascimento
Apesar de saber que a demissão em si era apenas o começo de uma longa e dura jornada (pois receber indenizações trabalhistas do O Estadão é uma verdadeira via crucis), logo me vi diante de um novo começo. A demissão do O Estadão, queira ou não, me estimulou a começar uma nova carreira jornalística, desta vez no universo eletrônico. Daquele mês de setembro em diante, minha vida profissional iria mudar radicalmente. Eu estava ingressando no mundo do jornalismo de internet, cada vez mais popular neste e em outros cantos do planeta. A vida profissional não é tão calma como no impresso, pois você têm que trabalhar o dia inteiro para receber apenas um piso salarial. Contudo, vale a pena a gente ter um pouco mais de independência e o seu nome ser reconhecido em mares nunca dantes navegados. Aliás, com o reconhecimento, você acaba usando sua imagem e seu trabalho para conquistar seus próprios ganhos pessoais. Quem diria que aquele jovem repórter que vivia fazendo matérias de BR's fechadas, reintegrações de posse, invasões de sem-teto, de cachorros mortos na rua, hoje vive e respira política?
Considerações finais
Sim, estou no webjornalismo, mas jamais vou esquecer do jornalismo impresso. O Estadão do Norte e todas as pessoas que passaram por lá e outras que lá continuam fizeram e fazem parte da minha vida. Isso é fato e revoguem-se todas as disposições em contrário. O Estadão do Norte foi meu início na imprensa, foi minha janela, foi meu suporte, minha casa, minha fábrica de sonhos e foi o trampolim para uma nova vida profissional. Não tem como alguém dizer que eu não amo o O Estadão do Norte.
Aliás, por revelar esse amor é que, neste momento, eu só tenho a lamentar o que fizeram com o grandalhão do impresso. O jornalismo do O Estadão hoje é algo que beira o escárnio. A magia das equipes de externa não existe mais. Os bons "jornalistas de rua" foram mandados embora por conta de atos corporativistas praticados por meia dúzia de mercenários e interesseiros. O maior jornal do Estado hoje não apresenta matérias interessantes, bem trabalhadas, investigadas ou, no mínimo, atraentes aos olhos do público menos exigente. Para piorar, não se vê mais matérias assinadas, pois o último repórter que fazia "externa" (mesmo que pessimamente) e assinava foi Josimar Cardoso. Agora, matéria assinada só pelas mãos do esforçado repórter-fotográfico Marcelo Gladson, que está se formando em Comunicação na Uniron. As pessoas que vão para a rua colher alguma coisa para ser posta nas páginas da editoria de Cidades (ainda existe?) ou de Geral são duas estagiárias. Uma delas sequer é acadêmica de Jornalismo...
Cara... a Redação do jornal O Estadão do Norte se tornou algo deprimente. Tem muito chefe para poucos índios. Gente que não levanta a bunda da cadeira para ir para a rua produzir (eu disse produzir) matérias de interesse público. O que sai no O Estadão do Norte ou é release ou é matéria colhida dos sites.
Detesto ter que terminar essa história tão linda nesta forma tão trágica mas, aquele cidadão conseguiu.... ele acabou com o jornal O Estadão do Norte... e eu não estou falando de Mário Calixto que, na minha opinião, ou é masoquista ou é cego para não ver o câncer que se instalou em sua empresa.
Nos últimos meses de 2002 eu caí de cabeça numa crise existencial que foi gerada a partir de um relacionamento proibido com uma jovem que morava em Candeias do Jamari e que, não só por conta dela, mas também por sua maravilhosa família, acabou colocando em xeque a minha harmoniosa convivência em casa. Não demorou muito e logo fui largado por mulher e filhas, numa despedida que eu nem tive como reagir. Dali em diante meu inferno astral começava. Sozinho, parei de atuar com primazia no trabalho e por várias vezes deixei de ir trabalhar, tomado pelas ressacas constantes, fruto das bebedeiras que serviam como anestésicos para meu sofrimento. Com isso, fui logo sendo questionado diariamente pelos meus imediatos. É neste momento que faço justiça a duas pessoas que, mesmo estando em posições favoráveis dentro da Redação, foram humildes e compreensivas o bastante para me estender as mãos e me dar mais uma chance. São eles Nonato Cruz e Chagas Pereira. Nos meus momentos de dor e solidão que me faziam chegar atrasado ou faltar ao serviço, esses caras me davam conselhos e um ombro amigo para chorar. Experientes e com uma sabedoria acima do normal, fizeram com que eu ainda tivesse forças para resistir e me manter mais alguns dias no jornal. Mas, como a situação não apresentava melhoras, o editor chefe, Antônio Pessoa, acabou me dando férias e, como todos sabem, sair de férias "induzidas" no jornal O Estadão era sinônimo de demissão. Não haveria retorno. Minha derrota estava quase completa e as semanas de solidão e incertezas de emprego iam se passando. Nesse ínterim tentei, pela última vez, a reconciliação com a minha amada e, quando obtive um sinal bom, tive que dizer a ela que já não sabia se ainda era um homem empregado. Nos dias seguintes que se aproximavam de minha volta, fui gastando fichas telefônicas para ligar para Omar e Pessoa. Fui orientado a ficar mais um mês de férias, pois tinha elas vencidas e que também era para os editores intensificarem junto aos chefões o meu suposto regresso. Quando terminaram-se os 60 dias de espera, tive que ouvir mais uma daquelas falácias de que eu estava voltando ao trabalho por causa da boa vontade dele, do Pessoa. Cara, nunca vi, até aquele momento, a verdadeira face da falsidade e da falta de caráter. Obviamente continuei no emprego, mas sempre com a certeza de que, dali para frente, tinha um cara que quando pudesse, iria me jogar na cara a manutenção do meu emprego, e sempre utilizando o nome do Mário Calixto como escudo. "Ah, porque o Mário não gosta disso...", "Ah, porque o Mário mandou fazer isso...", "Ah, porque quem manda é o Mário e eu só obedeço." Quanta hipocrisia! Era uma pessoa em que não dava mais para a gente acreditar. Mas meu inferno estava apenas começando...
Layout
O Estadão do Norte sempre foi elogiado pelo seu belo layout. Pelo tempo que fiquei lá, o jornal passou por pelo menos umas três alterações gerais em seu design. A última foi a mais bonita de todas mas, em compensação, a que desvalorizou totalmente o talento dos jornalistas. O caríssimo layout pago por Mário Calixto, que contratou gente de fora e fez até uma festa no Barcaça para apresentar a todos, prendia os jornalistas e diagramadores. O que importava, naquele momento, era preencher exatamente os boxes, em pouquíssimas linhas e diagramações pré-definidas que causavam ânsia de vômito nos jornalistas que sabiam valorizar um texto rico em detalhes. O layout a que me refiro é o mesmo que você, leitor, vê hoje nas bancas de revistas, panificadoras e sinais de trânsito. Bonitinho, mas ordinário.
Injustiças
Eu poderia dizer aqui que fui o maior injustiçado de todos pelos editores e chefões do O Estadão até hoje, mas não afirmarei isso considerando o que passaram alguns colegas. Uma perseguição implacável e um assédio moral brutal foram impostos à gente boa como Claudinho Paiva e outros que nem vou mencionar. Trabalhar muito sem ganhar nem um "obrigado" dos chefes era rotina para o amigão Claudinho, cara boa praça que, apesar de não ter se adequado completamente ao jornalismo moderno, sempre ajudava a quem precisava. Hoje Claudinho está à sombra da incerteza, talvez sem nenhuma outra porta aberta para si, mas com a eterna certeza do dever cumprido, mas não reconhecido.
Mas Claudinho não foi o único que trabalhou muito sem ganhar esse reconhecimento. Alguns trabalharam muito, fecharam cadernos especiais de final de ano, de carnaval, de celebração de aniversário da empresa, sem nunca ter ganhado uma hora extra, uma gratificação ou um simples "Parabéns. Bom trabalho."
Amigos
Gosto de dizer que os funcionários do O Estadão já faziam parte da minha família e muitos deles considero como amigos até hoje. Mas quero destacar aqui as pessoas que realmente se mostraram genuínos fraternistas. Nonato Cruz era um dos caras mais tranqüilos da Redação e que sempre era fonte de informação e história para os novatos como eu. Tinha um bom gosto musical e adorava dar risadas com as palhaçadas da turma. Houve um momento em que minha amizade com ele foi posta (por forças alheias à convivência laboral, mas isso é outra história) em dúvida, mas que logo foi sendo recuperada. Até hoje acolho em meu coração este senhor a quem eu apelidava de "Tio Barnabé" como um dos grandes amigos (pelo menos da minha parte) que tive ali dentro.
Chagas Pereira: Um cara que, apesar de ter inicialmente se proposto a não ser justo comigo (eu achava isso), mostrou-se um verdadeiro companheiro, até mesmo com palermas como eu. Segurou a barra várias vezes para mim. Me chamava na ante-sala para me repreender. Era justo e sereno em suas palavras. Era brincalhão também, mas sempre impunha respeito pelo seu jeito sério. Talvez Chagas não tenha agradado a todos, mas de mim ele soube conquistar respeito e admiração. Incontestavelmente, um paizão.
Leivinha Oliveira e Paulo Ricardo nunca foram considerados meus amigos verdadeiros, mas sempre mantivemos o respeito com a opinião de cada um e a alegria de algumas horas etílicas que apenas ampliaram o sentimento de fraternidade que tenho com eles.
Minha sincera amizade em especial para a Antônia, Manoelzinho e Bolinha, gente que não faz mal a ninguém e que não deve ter inimigos em canto nenhum deste mundo.
Ao Maurício Calixto, que hoje passa mais tempo na Assembléia Legislativa, só tenho a dizer que, apesar de ser irmão do dono do jornal, ele sempre se manteve humilde com os funcionários. O cara é realmente político, sabe conquistar eleitorado. Também, com a inteligência e a oratória deste homem, pelo menos a admiração se torna uma questão de tempo.
Saída
No ano passado (2006), mais uma vez eu me encontrava com necessidades pessoais para tirar férias. Tinha respeitado, até o mês de agosto, o fato de que a Redação estava carente de funcionários e, por isso mesmo, mais uma vez segurei a editoria completa de carnaval e o período integral de Copa do Mundo. Mas chegou um momento em que eu tive que tirar férias e acreditei que se o fizesse apenas anunciando aos diretores administrativos, não teria problemas. Ledo engano! Zacarias Lima, que estava assumindo a editoria enquanto Pessoa viajava, era contra meu repouso garantido na CLT e, por conta disso, pediu que eu ficasse mais alguns meses, principalmente porque as eleições 2006 se aproximavam. Expliquei a ele que não dava mais para segurar, pois precisava das férias para resolver alguns problemas pessoais. Em quase 10 anos de empresa, nunca tirei férias para viajar, apenas para resolver problemas pessoais. No dia seguinte ao meu comunicado de que estava de férias, Pessoa retorna de viagem e logo fico sabendo que ele não estava nada satisfeito com minha saída. Fui ao O Estadão e perguntei pessoalmente a ele se o que diziam era verdade: "Tá acontecendo alguma coisa aqui? Estão dizendo por aí que minha cabeça vai rodar porque eu tirei férias". O cara me disse, na boa, que nada disso era verdade, que eu poderia tirar minhas férias despreocupado. Passaram-se os 30 dias de descanso e, no dia 4 de setembro de 2006, quando eu achava que poderia recomeçar a trabalhar, sou chamado ao Departamento Pessoal onde a Dona Maria (outra que deve se tornar patrimônio histórico da empresa) me pediu para eu assinar o aviso-prévio e que, no dia seguinte, eu levasse minha Carteira de Trabalho para a empresa dar baixa. Honestamente, quase não acreditei, até porque, como membro da diretoria executiva do Sinjor, eu acreditava não poder ser demitido. Quanto engano...
Cara, não acreditava que aquilo estava acontecendo. Depois de nove anos e seis meses, eu estava sendo sumariamente e injustificadamente demitido do jornal, local que eu já considerava meu lar. Apesar de ter sido contratado dois dias depois em outra empresa, minha depressão silenciosa fez com que eu perdesse cinco quilos. Ainda estava absorvendo aquela dor de ter sido preterido. A dor da rejeição deve ser uma das piores deste mundo. Demorou a cair a ficha.
Dúvidas
Nas primeiras semanas de certeza de estar "fora de casa", comecei a tentar encontrar alguns "culpados". Logo, dois ou três nomes me vieram à cabeça. Alguns destes eu ainda não tenho certeza se fizeram realmente parte desta sórdida manobra anti-Rondineli mas, de um eu tenho certeza e disso, não existe ser humano nesta Terra que me convença do contrário. Sabem de quem eu estou falando pois, gente sorrateira e repugnante como este "ser" eu nunca conheci na vida.
Renascimento
Apesar de saber que a demissão em si era apenas o começo de uma longa e dura jornada (pois receber indenizações trabalhistas do O Estadão é uma verdadeira via crucis), logo me vi diante de um novo começo. A demissão do O Estadão, queira ou não, me estimulou a começar uma nova carreira jornalística, desta vez no universo eletrônico. Daquele mês de setembro em diante, minha vida profissional iria mudar radicalmente. Eu estava ingressando no mundo do jornalismo de internet, cada vez mais popular neste e em outros cantos do planeta. A vida profissional não é tão calma como no impresso, pois você têm que trabalhar o dia inteiro para receber apenas um piso salarial. Contudo, vale a pena a gente ter um pouco mais de independência e o seu nome ser reconhecido em mares nunca dantes navegados. Aliás, com o reconhecimento, você acaba usando sua imagem e seu trabalho para conquistar seus próprios ganhos pessoais. Quem diria que aquele jovem repórter que vivia fazendo matérias de BR's fechadas, reintegrações de posse, invasões de sem-teto, de cachorros mortos na rua, hoje vive e respira política?
Considerações finais
Sim, estou no webjornalismo, mas jamais vou esquecer do jornalismo impresso. O Estadão do Norte e todas as pessoas que passaram por lá e outras que lá continuam fizeram e fazem parte da minha vida. Isso é fato e revoguem-se todas as disposições em contrário. O Estadão do Norte foi meu início na imprensa, foi minha janela, foi meu suporte, minha casa, minha fábrica de sonhos e foi o trampolim para uma nova vida profissional. Não tem como alguém dizer que eu não amo o O Estadão do Norte.
Aliás, por revelar esse amor é que, neste momento, eu só tenho a lamentar o que fizeram com o grandalhão do impresso. O jornalismo do O Estadão hoje é algo que beira o escárnio. A magia das equipes de externa não existe mais. Os bons "jornalistas de rua" foram mandados embora por conta de atos corporativistas praticados por meia dúzia de mercenários e interesseiros. O maior jornal do Estado hoje não apresenta matérias interessantes, bem trabalhadas, investigadas ou, no mínimo, atraentes aos olhos do público menos exigente. Para piorar, não se vê mais matérias assinadas, pois o último repórter que fazia "externa" (mesmo que pessimamente) e assinava foi Josimar Cardoso. Agora, matéria assinada só pelas mãos do esforçado repórter-fotográfico Marcelo Gladson, que está se formando em Comunicação na Uniron. As pessoas que vão para a rua colher alguma coisa para ser posta nas páginas da editoria de Cidades (ainda existe?) ou de Geral são duas estagiárias. Uma delas sequer é acadêmica de Jornalismo...
Cara... a Redação do jornal O Estadão do Norte se tornou algo deprimente. Tem muito chefe para poucos índios. Gente que não levanta a bunda da cadeira para ir para a rua produzir (eu disse produzir) matérias de interesse público. O que sai no O Estadão do Norte ou é release ou é matéria colhida dos sites.
Detesto ter que terminar essa história tão linda nesta forma tão trágica mas, aquele cidadão conseguiu.... ele acabou com o jornal O Estadão do Norte... e eu não estou falando de Mário Calixto que, na minha opinião, ou é masoquista ou é cego para não ver o câncer que se instalou em sua empresa.
4 comentários:
gonzalez, sobre o Estadão, concordo em tudo que vc falou do Nonato. gente boa, bom chefe e muito família. Sobre as matérias que sai no O Estadão do Norte "release ou é matéria colhida dos sites", acontece a mesma coisa no Diário da Amazônia (um tanto de jornalistas que não saem da redação)
lamento muito um jovem que se acha entre o bem e o mal,não valorizou, o seu aprendizado, tornou uma pessoa mesquinta arrogante, incoviniente e cheio de si pensado que é melhor que os outro, e quando bebe fiuca mais insuportavel agora que esta fora se acha que foi injustisado, esquesendo os principios basicosa do universo. nos so mostramos o que somos, so fazemos o que pode, so damos o que temos,e so recebemos o que merecemos.te cuida pare de beber e torne uma pessoa melhor de se conviver
Não vou entrar em questões pessoais, acho que as suas desavenças têm que ser resolvidas no particular.
Concordo com o fato de que o Estadão perdeu a qualidade, está mau. Fico triste com isto, o jornalismo perde, a sociedade perde mais ainda.
Uma das coisas que não entendo é pq colocam como manchete matérias pequenas, sem aprofundamento, quase que notas - são notas mesmo! É enganar o leitor, que acha que vai ter uma boa e longa matéria sobre o assunto da manchete!
O problema não é ter releases, é ter só releases!!! E pouca produção local!
É uma pena pq o Estadão tem tradição, leitores fiéis que perdem uma opção.
Caro Rondineli, vc so esqueceu de dizer que o RONDONIAGORA é a versao eletronica do O ESTADAO DO NORTE. Sao parecidos em tudo: Sao grandes, tem super estruturas, super maquinarios, super anunciantes, milhares de leitores mas... agora só vivem do nome e de notas policiais e os funcionarios que produzem materias sao apenas estagiarios, que todo mundo sabe q é ilegal. De que adianta tanta tecnologia para tao pouco talento?
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